Script para Lágrimas de um Palhaço: um memorial - I
- João Rosa de Castro
- 27 de jun.
- 2 min de leitura

Era no Saint Peter que esta escrita se iniciava. Havia, no fundo do andar térreo daquela edificação, um belo e ermo jardim com um banco namoradeira no centro, rodeado de flores e plantas verdejantes que só eu visitava. Foi, portanto, no início de um crepúsculo de 1992 que este texto começou. O hotel era habitação de muitos atores, atrizes e atrozes.
No entanto, eu me vinculava, espiritual e intelectualmente, com Carlos Lombardi, que passava horas escrevendo aquela telenovela. Depois que imprimia um calhamaço de páginas do roteiro, ele colocava-as no elevador, ligava para nós e dizia: “Tá descendo!”. Nós transmitíamos página por página via fax para o diretor, no Rio de Janeiro.
Nessa ocasião, fazia mais de cinco anos que eu passara horas e mais horas a ouvir e tentar perceber a forte poesia de Léo de Carvalho. Passei, porém, esses anos todos apenas ouvindo, na medida em que não possuía vivência bastante para versejar como ele. Era “apenas” um adolescente. O frisson do Saint Peter me motivou, pois, a pensar que eu já estava pronto.
Lá se vão mais de trinta anos, e o texto continua escrevendo. No Saint Peter, eu também admirava o silêncio de Lauro César Muniz. Ele se sentava no sofá a esperar convivas, debruçava sobre o balcão; olhava para mim como quem quisesse dizer alguma coisa. Mas eu não esperava que ele dissesse nada; seu silêncio bastava e era rico.
Se eu quisesse ser um escritor famoso, teria sido em função da presença diária de Paulo Coelho naquele mesmo lugar. Fãs esperavam à porta o seu autógrafo. Ele dizia que seu sucesso e sua fama eram “graças a deus”. Eu já achava esse agradecimento controverso. Me autografou Brida e Diário de um Mago. Pena que a Neide nordestina tomou-os emprestados e nunca mais mos devolveu...
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