Em algum momento durante a experiência em psicanálise, como analisando, eu chegara a anotar alguns sonhos que foram acolhidos pela doutora MAP. Porém, nossa vida agitada e atrasos nas sessões me impediram de prosseguir com as anotações dos sonhos e suas análises na terapia.
Após alguns anos, tive coragem de ler Freud diretamente, quer dizer, seus próprios textos traduzidos para a língua portuguesa. Eu não quisera ou fora dissuadido de fazê-lo em função de um excesso de interpretação de seus textos, como se ele não fosse claro o bastante para ser lido “diretamente” (quer dizer, traduzido).
É certo que estou falando de traduções de seu texto que foram realizadas em diversos idiomas, sobretudo em inglês — e eu leio-o em português, sem que tenha encontrado muitas discrepâncias entre seus textos diretos traduzidos e a lexicografia psicanalítica encontrada na rede mundial e nos dicionários, que consulto para tirar as dúvidas que encontro nas traduções.
Se eu o houvesse lido desde a adolescência, no lugar dos charlatões de minha adolescência, por exemplos, talvez não passasse dos primeiros parágrafos dos livros destes últimos.
Depois de ter lido e relido (ou às vezes até ruminado) Nietzsche, descobri que muito se fala para dizer uma única frase que valha a pena ser lida ou dita. Tanto papel e tinta e massificação cultural devem levar certos autores aos infernos com viagens só de ida. Porquanto, se não é para ser relido, não vale a pena ser lido.
Portanto, é com muita honra que agora estou lendo o caro Sigmund com mais sossego, daqui da janela da sala, de onde posso ver os passantes do meu bairro, crianças brincando na rua, gente cada vez mais interessante, a quem, sempre que posso, faço notar minha presença.
Ao ler o pai da psicanálise deliciosamente, em voz alta, usando ora um tom ora outro, ora um sotaque ora outro, interrompendo para comentar de mim para mim, como se estivesse interagindo com o autor, inicio a análise dos meus próprios sonhos, a par e passu com suA Interpretação dos Sonhos, depois de ter encontrado a chave da cura para os meus piores males, repousando o que chamo o ápice da minha cura no interior do seu O Ego e o Id e outros trabalhos.
Agora, considerando-me um aldeão normal, ainda que mal compreendido (ou apenas não compreendido) pelos meus contemporâneos, por não conhecer ao certo o tom da fala no Brasil, e ser considerado impopular ou autoritário por uns e carente e doente por outros, sinto-me mais à vontade, mais bem acolhido pelo mundo, professoral como sempre, e fazendo valer o meu título de professor, mais do que de “escritor” ou de “poeta”.
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