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Adeuses: um adeus vale mais do que mil boas-vindas

  • Foto do escritor: João Rosa de Castro
    João Rosa de Castro
  • 28 de jan.
  • 2 min de leitura


Em Um Adeus, esta persona fluente supera a morte; vive após ser amada; vai às estrelas; despreza a verdade; encontra-a num prisma; sente o perfume do nada; se encanta, mas duvida que tudo isto, e mais, faça algum sentido em sua existência. Por isto, insiste em dizer adeus.

No entanto, nO Paraíso, o eu-lírico parece um galã. Assevera que, quando o ser amado lhe encontrar finalmente, terá encontrado o paraíso na Terra. Será que existe alguém assim? Em suma, se não fosse de belas mentiras que a poesia vivesse, o poema não teria valor algum, nem mesmo um motivo para dizer adeus como diz.

Já nA Lei do Silêncio, estamos diante do mínimo dispensável, são oito versos separados pelo “Banzo”. A dor de hoje tem remédio; a antiga é mistério; e a dor futura, que o poema não cita? Será a “angústia”? Um presságio? Favor completar, porque aqui também o eu-lírico insistiu em dizer adeus. E já partiu!

O próximo poema é um soneto intitulado Exílios. Traz mais dúvidas do que convicções: quantos poetas estão aqui sem poder desbravar a terra? Por que podemos “dizer”, mas apenas falamos? Por que os antigos se sacrificaram tanto, e o homem moderno só procura passatempo? Por estas e muitas outras, o eu-lírico insiste em dizer adeus.

Finalmente, temos Boas Intenções, último poema desta série; que constitui, na verdade, uma prosa poética, na qual o eu-lírico faz como a borboleta-macho, levando néctar de uma borboleta para uma mariposa, e de uma mariposa, talvez, para uma libélula, etc. Olha o jardim, de onde ele conclui sua sina, dizendo adeus.

 

BOAS INTENÇÕES

 

Ah se eu pudesse, por meio de uma negociação ultra-amorosa, emprestar o perfuma de Rita à Teodora, tão inodora. E de Teodora tomar o entusiasmo pela vida e depositar na alma esquálida de Amália. Amália, mais amável e agradecida, poria em minhas mãos o seu ouro para que eu desse à Dolores tão nobre, tão esnobe, mas tão pobre. Rica ela, daria parte de sua inteligência pulsante a mim, que, como um pombo correio vestido de amarelo, depressa, depressa, entregaria à Nini. O mundo ia se ver com Nini ladina e eloquente. Ah, se eu pudesse assim dum momento anunciar, depois de resoluções extraterrenas, a transferência de um pouco da fertilidade de Nini à Magali, que de tudo, sofresse estéril. Mãe, muito mais mãe, ela confiaria sua gratidão a mim para que eu desse à Genoveva. Por fim, Genoveva, numa explosão de amor universal repentino, dar-me-ia gratamente, todo o seu mel, para adoçar as amargas sem nome... Haja abelhas e haja mel. Ah se eu pudesse!


In: CASTRO, João Rosa de. Adeuses. São Paulo.

 
 
 

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