Adeuses: uma palavra vale mais que mil imagens
- João Rosa de Castro
- 14 de jan.
- 2 min de leitura

Voltando a falar da relação das mulheres entre si, Panapaná faz uma metáfora delas através do comportamento das borboletas e das mariposas. O eu-lírico observa-lhes as peculiaridades ressaltando as qualidades das mulheres em relação a um determinado homem. Esse homem (ou esse borboleta-mariposa-macho) representa a primeira vítima de morte. Apesar de ter desfrutado das trabalhadas nas cores e no brilho e das trabalhadas em tons de cinza, ele insiste em dizer adeus.
Quanto aos Sistemas de Emburrecimento, falam de como se pode iniciar um movimento semelhante ao nazismo. Porquanto no bairrismo, é muito subjetivo dizer que “minha cidade é a melhor”. Começa-se assim, para depois dizer “meu gênero é o melhor”, “meu sexo é o melhor”, “minha raça é a melhor”. Sou raça pura; por fim, “eliminemos todos os outros”. Por estas e outras, o eu-lírico insiste em dizer adeus.
Os Algarismos Romanos trazem imagens interessantes para esquecer — para lembrar. Enigmáticas, para não dizer “superficiais”, para não dizer supérfluas. Talvez o mundo passasse sem elas, mesmo assim o eu-lírico insiste em sucumbir e em dizer adeus.
Já em Veneno, temos a palavra. É ali que “uma palavra vale por mil imagens”. E mesmo rodeado de palavras, prestes sempre a adentrar um universo novo através de cada uma delas; prestes a transformar sua vida em uma fração de segundo em função de uma simples palavra, o eu-lírico insiste em dizer adeus.
Finalmente, Na Fila, esta persona pensa e observa a diversidade dos circunstantes, numa forma intensa de desejar e repelir; de tal sorte que, embora em meio a cenários criados enquanto espera Na Fila, também aqui ela insiste em dizer adeus. Vê:
NA FILA
Áspera e pura,
Muro de arrimo,
Pentagrama pálido.
Eu hei de me encontrar.
Uma morte simples e esperada
Na memória de quem deixou de me amar.
Alguém, que mora em Netuno,
De repente, se acha numa praça agitada
E quer aprender a ler os jornais
Como um qualquer.
Tanto silêncio ao meu redor
E eu sem poder dizer
Porque minha voz explode,
Porque minha arrogância sobe
Acima das outras cabeças.
Eu sempre vou desviar o meu olhar do seu.
In: Castro, João Rosa de, Adeuses¸ São Paulo: 2006.
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