Estrelas Reais: pacato cidadão
- João Rosa de Castro

- 16 de ago.
- 3 min de leitura

Enfim, depois de ter vascolejados meu corpo e minha mente, por quatro anos, no CAPS II Adulto Itaim Paulista, pelos grupos de terapia, oficinas, terapia psicodinâmica, reuniões de conselho, etc. hoje venho de ter estado com Soraya, a nova psicóloga, que assumiu minha referência há duas semanas, sendo que hoje estive em minha segunda consulta com ela. Tenho tido a sensação de quando, há mais de vinte e cinco anos, assumi meu tratamento com a Dra. Teresa.
Os aspectos revigorantes das sessões de psicanálise parecem ser a acolhida do analisando como pessoa humana, demasiado humana, no mundo, vasto mundo; não porque o psicanalista possa concordar com ele o tempo todo, no seu “pseudo” silêncio; senão porque nós apuramos e desenvolvemos o gosto através das manifestações de seu olhar, de seu gesto, de sua expressão, de suas perguntas sintéticas, além da escuta da nossa própria voz. A desvantagem que timidamente me ocorre é aquela falta de perspectiva social, pela qual, ensimesmado, posso deixar de valorizar as outras pessoas, e suas histórias e seu sofrimento, porque passo a conhecer em excesso os meus, reforçando o meu egoísmo, com a premissa do “conhece-te a ti mesmo”.
Os diálogos com Rubens, em terapia psicodinâmica, pareciam mais uma dialética; estávamos como que numa competição de conceitos na Grécia antiga, no afã de convencer cada qual um número maior de pessoas com nossos achados teóricos. No entanto, concluíamos nossas sessões com uma reverência maior um sobre o outro. Levando-me a pensar: “finalmente encontrei alguém que pode ser meu inimigo” ou um “igual”. Era, pois, algo como uma perspectiva social que reinava naqueles encontros. Quanto não carecíamos de nos conhecermos com o fito de descobrirmos as fragilidades um do outro? “Conhecer o outro”, isto sim é que parecia valer a pena! Contrariamente, eu passara mais de vinte anos em psicanálise com a Dra. Teresa e só soube coisas importantíssimas a seu respeito nas últimas consultas. Mas a retomada do tratamento psicanalítico veio a calhar, apesar de que não fui eu que escolhi: um lutador que em pleno ringue descansa entre os assaltos de sua luta.
Não sei o que o destino me reserva. Mas, provavelmente, breve, depois que me considerarem bem estruturado novamente, ou por algum motivo “operacional”, me mandarão para o próximo assalto nesta luta que diziam ser a vida, na qual “eu queria sim lutar”, como dizia o Ira: “mas não com esta farda”! Devo ter exagerado nos meus vinte e cinco anos descansando, recebendo vaselina no rosto e água na testa, enquanto os Rubens da vida me aguardavam cheios das pancadas dialéticas para (tentarem) me dar.
Finalmente, volto a me deleitar nestas aparentes canoas e marolas, que a psicanálise representa (nunca para o psicanalista, é claro). Agora, cumpre, novamente, como fiz desde o princípio das sessões com a Dra. Teresa, descobrir os papéis a serem estabelecidos entre mim e Soraya. Creio que esta faz jus ao mesmo papel que aquela, que representava o “Estado” para mim; porém, preciso verificar com Soraya se estou apto a reassumir o papel que eu assumia desde o princípio, em psicanálise, que era o de “Cidadão”.
No mundo e na época dos excessos e dos direitos, podemos escolher o tipo de atenção cabível a nós, bem como tirar vantagem da atenção que escolhem por nós.
Segunda-feira, 17/04/2023 — 15h52 — 24ºC.






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