Oficina de Ficção: histórias contadas
- João Rosa de Castro
- 22 de out.
- 2 min de leitura

…Aos poucos eu vou contando mais coisas sobre mim na Brightness. Contei, à mesa do almoço, que li Zuenir Ventura. Eles já tinham discutido sobre a inveja no Funny Biscuit, e eu tinha ficado quieto. Mas estenderam o assunto na semana e falaram novamente a respeito no Guimarães. Aí precisei intervir. Alice tinha dito que Eucles estava “com inveja das férias dela e que ele parasse com isso”, pois a inveja era uma “merda”. Depois, no Guimarães, ele tornou a falar no assunto das férias dela com algum desprezo. Juliana, filha de Ceiça, estava à mesa. Ceiça disse a Eucles que parasse com isso; afinal Alice já o havia advertido sobre o assunto antes. Aí eu disse que de inveja eu entendia. Já tinha lido Mal Secreto: A Inveja, do Zuenir Ventura, que, em seu livro, tinha discernido o ciúme e a cobiça, da inveja. Segundo ele, o ciúme é querer manter o que se tem, a cobiça é querer o que o outro tem e a inveja é não querer que o outro tenha ou, na pior das hipóteses, destruir o que o outro tem. A reação de Ceiça foi de aceitação. Eucles quis me contrariar, invertendo tudo, como sempre, mas Ceiça confirmou o que o Ventura dizia.
Alice disse que ir à praia neste frio dependeria da companhia. Aí, tive de contar a todo o pessoal da produção que tinha planos de ir para o litoral, com meus amigos da faculdade. Dois dos quais seriam meus futuros afilhados de casamento, pois iriam se casar em breve. Reagiram com um silêncio inesperado, como se “atualizassem” o que pensavam sobre mim, povoando um sistema vazio com dados. 07/12/2006.
[CASTRO, João Rosa de. Oficina de Ficção. 2ª edição. São Paulo, 2019.]





