Superego Cultural: profissão: “Assumido”; profissão: “Enrustido”!
- João Rosa de Castro
- 28 de out.
- 3 min de leitura

Um jogador de vôlei soma mais um entre todos os jogadores de vôlei. Dizer-se “alegre, homossexual, passivo, ativo, espada, etc.” ou o quer que implique revelar as preferências sexuais fica para quem não têm profissão e possivelmente se candidate à prostituição. Se ele se diz alegre, deve estar ameaçando desertar o atletismo por algo de valor “menor”; e o sexo que não seja estritamente entre quatro paredes, de luz apagada e papai-e-mamãe sempre será condenado; é semelhante ao blefe: como eu que sou pesquisador e estou aqui soltando fumos de escritor. Seja michê, seja gogo boy, seja gigolô, seja cafetão – é preciso respeitar a profissão que se exerce, com o risco de tornar desacreditados todos os colegas.Alegre não é profissão – alegre é suposição – quem opta por uma vida dessas, por um “estilo de vida” desses; contrário ao judaísmo, contrário ao cristianismo, em plena América-Latina católica ou cristã, está fadado ao fracasso dos outsiders; além de seguir contra a corrente – outsiders, diga-se, como eu, porém meu fracasso se deve a outros motivos que não diretamente sexuais; e nem tudo é sexual, como postulava o pai da psicanálise. Os desejos, o predomínio de todo desejo, seja por corpo de pessoa de mesmo sexo, por criança quando se é adulto, por bicho quando se é gente, por fezes, por cadáveres ficam para os urubus, que os comem a todos sem distinção. É muito mais interessante e, até mesmo, erótico, proibir; dá bochichos como esse de ontem no MASP. Imagine-se o turbilhão de desejos que não deve ter rolado entre os antagonistas dessa pueril questão! Imagine-se quanta troca de ideias, de opiniões, de vocação. Infelizmente, essa questão milenar aumenta e intensifica a dor dos desencontros. Por sorte, o encontro foi num sábado: ninguém dali estava trabalhando. O problema é o de manifestação como essa mexer na força de trabalho, no ânimo e, portanto, no bolso do povo.De modo que a “persistência” no desejo da “raça homem” pelo mesmo sexo; ou melhor, a tentativa de “institucionalização” do desejo, seja lá qual for, é mais danosa para a humanidade do que sua repressão. Nunca ouviram falar em sublimação? As crianças fazem valer o seu desejo como forma de se rebelar contra os pais; levá-lo para a vida adulta corresponde à mesma vontade de se rebelar – alegre e adulto se rebela contra o papa, contra o príncipe (e/ou os partidos) e contra o povo; isto sem falar que, em função dessa vadiagem, as mulheres ficam limitadas à religião, à vida sem gozo; sem proteção contra os bárbaros que lhes podem invadir a soleira de súbito.Dizem que somos livres para tudo no afã de darem cordas que nos enforcam. Essa gente que prega a liberdade, ai, ai, ai de mim: querem mesmo é pôr os ingênuos na berlinda. Assim, o jogador de vôlei foi ingênuo ou maldoso ao se haver declarado “assumido” e depois choramingar que lhe chamaram “bicha”... Mas não fora ele mesmo que se dissera “bicha”? Terá escolhido “ser” algo que reprovava? Talvez pense ser isto um grande feito em benefício de uma minoria – e quiçá até o seja. Ocorre, porém, que o público de todo homem, como já diziam os modernistas, no “andem com a multidão!”, é a maioria. E a maioria de nós está sublimando desde Freud, de quem falamos com desdém, ou “aliviando” suas carnes, seus desejos mais sórdidos muito secretamente; e para este fim, temos sim um privilégio chamado privacidade. Que ninguém nos ouça, pois; agora, vamos fazer pontos nas quadras e escrever as palavras: eis as nossas profissões! Evoé! 12/07/2011
[CASTRO, João Rosa de. Superego Cultural. 1ª edição. São Paulo, Uiclap, 2025].





